Este filme americano de classe B é para mim a melhor comédia de sempre, apesar de ser um filme de terror (mais precisamente um terror de filme...). Passou na semana passada na RTP1, às tantas da madrugada, e a verdade é que foi do melhor que já vi no domínio dos filmes extremamente maus (leia-se mal escritos, mal produzidos, mal realizados, mal filmados, etc, etc.). Isto porque de tão mau, dá a volta e passa a genial. Fica aqui um cheirinho do que perderam:
- Só pelo título já podem ver o calibre deste bojarda de classe B: "Está Vivo III: Ilha do Está Vivo"
Como não vi os dois filmes anteriores desta triologia (mas juro que vou comprar a triologia nem que seja a última coisa que faça na vida) só posso falar do filme que a completa. É de 1987, escrito e realizado pelo conhecido Larry Cohen (é conhecido pelos pais, tios e por alguns vizinhos), um mago da estupidez e do non-sense genuínos.
Começa assim:
Ellen Jarvis, mulher de Stephen Jarvis dá à luz um bébé num carro numa rua qualquer. Um polícia tenta ajudá-la mas por azar foi comido pelo bébé Jarvis... Como isto foi chato, o bébé é levado a tribunal, onde Stephen faz uma emocionada defesa do filho. Começa aqui a bonecada:
O bébé Jarvis, à falta de dinheiro para efeitos especiais, foi construído em plasticina rasca, bem como a jaula e as correntes que o impediam de comer a plateia. Claro está que o gajo quando se irritou, torceu as barras de plasticina e atirou-se ao Juíz... Mas o pai lá o acalmou e o Juíz deliberou que o bébé ia ser enviado para uma ilha deserta (!). E lá foi.
A cena seguinte inclui uns caçadores de monstros (só pelo carácter desportivo da coisa) que chegam à ilha de helicóptero. Eram 2 caçadores, um ajudante e o piloto, que fica inteligentemente no helicóptero. Os outros chegam a uma cascata e um deles olha para a enxurrada de água e diz ao ajudante "olha, vai lá subir por aquela cascata fodida para ver se há lá algum caminho" - e o gajo, como não foi à escola, lá vai de boa vontade sem sequer parar para pensar "hummm... caminhos por cascatas de água de 20 metros?". Obviamente, lixa-se. Vem às reboletas até cá abaixo com um boneco de plasticina agarrado ao pescoço (em abono da verdade, diga-se que era ele que segurava o boneco, para este não cair).
Ora os 2 gajos decidem que está na hora de dar de frosques, mas um é logo morto e o outro fica sem um braço. Este último, foge para o helicóptero, claramente com o braço escondido debaixo da camisola e uma molhanga vermelha a escorrer pela manga a fingir que é sangue. Tudo muito bonito, não fosse o piloto decidir "Hmmm... se calhar vou levantar vôo antes de o maneta entrar, só porque sim", e o tipo fica na ilha. O helicóptero levanta e vai voando, até que o piloto leva uma dentada do bébé no colarinho e o helicóptero explode no ar. Isto levanta duas questões:
1 - Como é que o bébé-monstrengo entra para o helicópero, se este tem as portas fechadas e se vê no momento da descolagem que nada nem niguém entra lá para dentro;
2 - Como é que um helicóptero explode no ar só porque o piloto é abocanhado, e porque é que a explosão - que não se vê directamente - arremessa bocados de estores e caixas de fruta pelos ares...
Não importa.
Passados 5 anos, vamos dar com o pai Jarvis a trabalhar numa sapataria e a mandar bitáites aos clientes que se queixam que os sapatos entortam os pés, porque o governo deixou de subsidiar bébés-monstro (Alive's), uma vez que há 6 meses que não nasce nenhum. Chega à sapataria um gajo da polícia e pergunta se Sephen quer ir à ilha tentar trazer um Alive vivo (um Alive alive, em amaricano), já que ele é o único que consegue acalmar o bicho - dado que um é filho dele.
Depois de receber a sua arma com dardos paralisantes -
e de a experimentar no gajo que lha deu - lá embarca com os polícias e vão até à ilha, não sem antes cantarem jingles bem estúpidos durante a viagem. Assim que lá chegam, percebem que algo se passa, porque havia uma máscara de mergulho nova em folha no chão (não interessa bem porquê). Chegam à cascata, vira-se um dos gajos e diz "olha, sinto-me sujo, vou tomar uma banhoca aqui nesta cascata" e os outros "está bem". Ora o gajo é morto por um Alive (que agora cresceu e é do tamanho de um gorila). A seguir o Alive corre atrás de uma tipa que ia com eles, e ela naturalmente foge pela mata. O estranho é que quem ia a fugir era precisamente o gajo que tinha acabado de ser morto e não ela... Um pequenito erro de edição.
Depois de alguma carnificina chega-se à conclusão de que existem 5 Alive's e não apenas um. O pessoal que sobrevive foge para o barco, mas quando lá entram reparam que os Alives também embarcaram, e que já mataram o resto da tripulação. O único que acaba por sobreviver é Stephen, que é protegido pelo filho-monstro, que de uma maneira muito ternurenta lhe dá uma cacetada e o manda borda fora. Manda-lhe depois uma porta - que claramente não faz parte daquele veleiro - com aspecto de porta de cofre,
mas que, por ser de aço, flutua bem. Quando esta cena acontece, vê-se um navio cargueiro por perto - que seria a salvação do gajo - mas quando ele sobe para a porta e procura o navio, este já não está lá. Isto requer explicação:
- O navio não estava lá porque nunca esteve. A imagem em que aparecia o navio era de outro filme, gravada com outra câmara e noutra altura do dia, colada no filme porque nas filmagens não apareceu nenhum barco por perto...
Bem... A verdade é que Jarvis vai flutuando, safa-se a um tubarão, mas por azar ou má sorte, vai dar à costa em Cuba. Porquê? - Só Deus sabe. É apanhado por militares (que fazem uma imitação extremamente má de um cubano que fala inglês aos berros) que o metem numa maca e o levam por um corredor com uma fotocópia de Fidel pendurada na parede e lhe dizem que Fidel vai "tratar" dele pessoalmente. Esta é uma das partes mais intrigantes deste maravilhoso épico:
- Na cena seguinte, sem mais demoras, Jarvis desembarca num barco de borracha nos EUA, com dois cubanos que o ajudaram a fugir. Um deles dá-lhe uma arma, e Jarvis agradece, despedindo-se só de um deles e ignorando o outro à grande. Posto isto, os cubanos voltam para o barco de borracha e... -
voltam para Cuba.
Curiosamente, os Alive's tinham velejado até ao preciso local onde Jarvis desembarcou e entretanto já tinham armado zaragata num bar e escavacado alegremente uns quantos arruaceiros que tentavam bater a uma rapariga. Um deles é agarrado pelo Alive, que naturalmente lhe arranca a cabeça, e que na cena seguinte, quando cai, já é outro gajo, mas com cabeça. Momentos depois, numa outra imagem do pugilato, cai o mesmo gajo novamente, para o mesmo sítio.
Isto desenrola-se durante uns tempos até que a polícia espeta umas quantas balas num Alive que só queria salvar a rapariga (até lhe tinha feito um carinho e tudo...) e lhe diagnostica
Sarampo, porque o bicho tinha umas borbulhas.
Entretanto, há um gajo que leva a mulher do Jarvis num Porsche, desse bar para uma casa lá perto. Ela entra e não o deixa entrar a ele, fechando-lhe o portão de 1,50m na cara. Ele fica lixado e tenta abrir mas não consegue (e não se lembra de saltar), voltando para o carro, onde é morto por um Alive.
Ellen Jarvis vai para o quarto e vê uma sombra de um Alive na janela. Como é lógico, manda-lhe com um mini rádio despertador às trombas e o Alive é seriamente atingido, ficando por uns tempos a apanhar bonés. Ela vai à varanda e é puxada pelos cabelos para cima do telhado. Chega Stephen Jarvis - que também não salta o portão de metro e meio - e arromba aquilo, subindo depois até ao telhado, onde curiosamente estão os 5 Alives,
incluíndo o que morreu. Passa nas calmas por um deles, mas leva uma tamanha de uma tapona com as costas da mão, caindo e logo depois prosseguindo nas calmas o seu percurso sem sequer olhar para trás, onde o Alive fica imóvel em posição de Michel Preuddhome a defender penalties.
Chega perto da mulher, e percebem os dois que os 5 Alives estão a morrer do Sarampo, e que lhes querem entregar um pequenote. E eles "tudo bem", e fogem da casa - que a esta altura estava cercada pela polícia - sem serem vistos. Para fugirem, recorrem inteligentemente ao roubo do carro de um dos mirones, mesmo atrás dos polícias, que nem se voltaram para ver um carro a fugir de uma cena de crime, com o dono agarrado à porta e a gritar HELP!!!
- E sim, acaba desta maneira o melhor filme de sempre. Tão estupidamente como começou.