2007-01-25

Famel Zundapp 3



Esta e outras bombas em www.motorizadas50.com/tunning.htm


Duvido que Miguel Esteves Cardoso tenha escrito alguma coisa sobre este baluarte da cultura portuguesa.
É um erro. E digo isto porque não a encontro na Causa das Coisas, onde poderia figurar em perfeito pé de igualdade com os outros objectos.

Urge informar a faixa litoral portuguesa de que o interior do país - mais precisamente a Região Centro - não está bem descrita sociologicamente. Sei de fonte segura que a Zundapp 3 não figura em nenhum relatório nem é alvo de análise sócio-cultural. Vamos então colmatar tão grave esquecimento:

Em conjunto com a Casal Boss ou com a Sachs Fuego, a Famel Zundapp 3 (notem o peso e pujança destes nomes) é em si própria História Contemporânea Portuguesa.
Situemo-nos:

Década de 80: as aldeias e as pequenas vilas de Portugal não são nada sem estas velozes bombas. Enquanto que em Lisboa os meninos queques andam de scooter ou de DT (alguns meninos da aldeia também tinham, mas eram só os ricos), o nós andavávamos de Zundapp, Casal ou Sachs.

Passei ao lado de uma carreira de matarruano, como acabam de perceber. Mas era o único meio de transporte minimamente digno e motorizado que se podia arranjar com os trocos que ganhava a trabalhar no verão. Comprei a minha Sachs com 16 anos.

Biografias à parte, a Z3 (nome querido para FAMEL ZUNDAPP 3) pode ser vista por todo o lado, nas mais variadas tarefas: desde o trabalho do campo até ao motocross pacóvio, na entrada do café ou no campo da bola, atrás da mata ou em frente aos correios. Lá está ela, sempre digna no seu tamanho de porta-chaves.

Facilmente confundível com a Casal Boss, a Z3 contribuiu mais para a História do interior de Portugal do que todas as outras "cinquentas". O seu uso é transversal às faixas etárias, abrangendo o puto estúpido (12, 14 anos), o grunho adolescente (dos 15 aos 17), o calhorda adulto (dos 18 aos 30), o matarruano de meia-idade, e claro, o montanheiro sénior, ou velhote.

Desengane-se quem pensa que estas motorizadas andam apenas a gasolina. Na verdade movem-se com mistura de gasolina aditivada, óleo e álcool. A gasolina e o óleo são atestados no veículo e o álcool, no condutor. Só este composto, ingerido geralmente sob a forma de "mini sagres", e às 24 de cada vez, torna possível o funcionamento do Piloto Automático, sem o qual nunca a viatura tomaria o caminho certo de volta a casa.

1 comentário:

a gaija trendy disse...

Muito bom, mais uma pérola sobre o enterior ostracizado e desesquecido (ou será o contrário?).

Não tive nenhuma acelera, nem nada parecido (pronto, o mais parecido que tive foi mesmo a BMX!), no entanto, lembro-me perfeitamente de querer a dita DT e, em momentos de loucura mais acesos, a CBR 600. Eram assim as motos mais cool. Mas lembro-me que sobre a Casal Boss havia o seguinte dizer "fumas? bebes? trabalhas nas obras? então compra uma casal boss". Enfim, coisas de citadinos...mas a Casal Boss tinha a sua graça...
Sobre a Z3 nunca tinha ouvido falar, até hoje...