A peregrinação anual a Sines em alturas de fim de julho tem trazido sempre pérolas que gosto de guardar. Na última noite de concertos, deixo os meus amigos e sigo em busca de uma cerveja, quando sou abordado por um tipo sentado no muro que entremeia a zona do festival com a praia da baía de Sines.
"Olha, desculpa lá... tu não és de Lisboa?"
Foi aqui que vacilei. O riso queria sair mas prendi-o. Respondi com um sim reticente enquanto esperava que alguma epifania acontecesse. Mas não reconhecia aquela cara de absolutamente nenhum lugar. Se fosse um "Olha, desculpa lá... tu não és de Abrantes?" seguir-se-ia uma troca de impressões, lugares, pessoas conhecidas ou o café com os melhores caracóis. Mas não:
"Aaaaa... sim, sou."
Contente com o progresso, responde com alegria: "Eu também!!!"
- Somos tão poucos a viver em Lisboa - meio milhão na cidade e mais dois milhões à volta - que não damos qualquer valor quando encontramos um patrício, um irmão desta nossa localidade. Não sermos todos assim como este meu concidadão, devia ser pecado capital.