2015-12-29

Mariscada (i)Real


    Acabei de chegar do supermercado com um saco de ameijoa-boa e um vaso de coentros na mochila. Em que é que isto justifica a fotografia de Darwin ali acima? Aqui vai:

   Trouxe da peixaria um saco de ameijoa e já na caixa, ao pagar, reparo numa publicidade que dizia "25% de desconto em todo o marisco". Porreiro, ainda vou ganhar uns 2 ou 3 euros em cartão, pensei eu antes de confirmar que afinal o desconto não vinha no talão. Por sugestão da senhora da caixa e porque não tinha nada de mais interessante para fazer, fui ao balcão central tentar que o desconto fosse feito.

   Depois de explicar a situação e apontar para a enorme publicidade mesmo ali ao lado, entre telefonemas para os colegas e outras diligências, chega a supervisora que afirma: "ah, é que a amêijoa não é considerada marisco". Foi aqui que tudo descambou. Não pelo desconto, que nesta fase já estava maçado com a demora, mas antes porque estavam a desconsiderar o meu saquinho de amêijoa-boa. Repito: boa. Não era amêijoa-mais-ou-menos. E para mim se é da boa... então é marisco. 

   Baseado no meu extenso currículo obtido a muito custo nas mais respeitadas instituições  deste país (dos quais destaco o meu doutoramento na Cervejaria Ramiro), afirmei peremptoriamente o contrário, ao que ela me responde com categórica cagança: "no Reino Aninal a amêijoa não é um marisco, é um crustáceo"

   Aqui confesso que me demorei um pouco nos meus pensamentos. O primeiro foi "olha, queres ver que agora temos doutores de Biologia no balcão central?", o segundo "valerá a pena dizer que é um molusco bivalve, ou vou parecer um cretino?" e o terceiro, já filtrado, foi o que acabei por escolher para lhe responder: 

- Então e o "marisco", pertence ao qual Reino? 

   Não insisti na conversa e vim para casa com o meu marisco, que está ali de molho. Mas o lucro com isto tudo foi a imagem com que me vim a entreter a caminho de casa:

  O cenário é uma zona costeira, o HMS Beagle ancorado no horizonte. Charles Darwin e um assistente apanharam um balde cheio de animais marinhos para catalogar, descrever e categorizar:

Assistente (com um caranguejo na mão): ó shô Darwin, isto o que é?
Darwin: é marisco.
Assistente (pegando numa lagosta): e isto, shô Darwin?
Darwin: marisco.
Assistente (agora com uma mão cheia de percebes): e estas cenas?
Darwin: isso vou classificar como... hmmm, deixa ver... marisco.
Assistente (com amêijoas nas duas mãos): e estas conchinhas, shô Darwin, também é marisco?
Darwin: tás parvo!? não vês que isso são crustáceos? Olha e digo-te mais, se alguém algum dia quiser comprar estas conchas e ter 25% de desconto em marisco no Continente da Defensores de Chaves em Lisboa, bem que pode tirar o cavalinho da chuva.




2015-03-26

Lá vem o carteiro



"Manhã cedo segue a marcha, sempre a mesma cadência
E lá vai de caixa em caixa metendo a correspondência
Para uns são alegrias para outros tristezas são
O carteiro não tem culpa, é a sua profissão"

- Não tem culpa, o caraças! O carteiro que hoje me bateu (num sensual encosto entre motas), além de ter batido por trás quando eu estava parado no semáforo, estava bêbado. Muito bêbado.

"Chegou o carteiro, das nove prás dez..."

- Eram nove para as dez eram... mais coisa menos coisa. E nove para dez era também o número de bagaços que aquele menino já tinha no bucho logo de manhã. Ainda por cima chegou petrás, sem pedir licença.

 E o carteiro que não era gago mas era bêbado, depois de encostar a roda da frente dele à minha traseira, responde-me assim:

"Pé-pé-pé-pé-pé-peço desculpa"

E não continuou a cantiga, porque o semáforo passou a verde e arrancou a fundo e aos esses, estrada afora, como quem tem pressa para entregar a correspondência, mas era mentira, que eu sei. Era mazéra o nebuêiro nas bistas. Mais abaixo ia-se espetando numa Ford Transit, mas não bateu por um ou dois cagagésimos, isto apesar de ter feito um zigue em vez de um zague.

E foi esta parte que me estragou por completo o texto, porque agora já não posso terminar com:

- O carteiro bate sempre duas vezes.

Merda.