2008-02-29

Pensamento de Fim de Semana


A ASAE fechou uma pequena indústria familiar que fazia amêndoas cobertas de açúcar de modo artesanal (aquelas brancas, rugosas, as únicas realmente boas). Alegadamente o espaço era exíguo.

Não seria mais lógico retirarem a licença de trabalho ao Coelhinho da Páscoa? A meu ver é bem mais duvidoso - além de pouco higiénico - um coelho cagar ovos de chocolate para as criancinhas comerem.

P.s.: Ainda está igualmente por explicar a legitimidade para o referido coelho intervir numa área de exploração comercial tradicionalmente católica.

Ah, e desculpem a imagem um bocado para o lado do nojenta, mas foi a única que encontrei com um coelho no acto. É que o coelho é um animal que não caga muitos ovos em público.

2008-02-28

Histórias de Encantar - II



Passa por mim no Rossio a 120 à hora. O Sr. Carlos apenas cumpre ordens e sabe que, a ser multado, o Ministério assume toda e qualquer responsabilidade. Ao chegar à Praça do Comércio quase atropelam uma jovem comunista na passadeira. Porquê comunista? Estabeleceram isso os dois, para não ficarem moralmente incomodados com o que poderia ter acontecido caso o Sr. Carlos não travasse a fundo.
"Pronto, Dr. Saraiva, cá estamos. 11h em ponto!"
"Obrigado, Carlos. Às 16h preciso que me leve ao Parque das Nações, ok?"
"Sim, Sr. Dr. Às 16h estou aqui e já com o carro lavado."
Chegado ao escritório do 2.º andar ouve-se a melodia polifónica de um excerto do concerto italiano em fá maior, BWV 971 (1º andamento) de Bach.
"Tou? Querida, bom dia, tá boa? (...) Sim, acabei de chegar... Hoje o trânsito estava ho-rrível. (...) Pois. Ahah. Olhe, hoje vou chegar tarde a casa porque tenho reunião lá na Quinta Palace-Regueifa (...) Não sei... talvez seja melhor deitar-se e não esperar por mim, sabe... é que a fábrica de Bucelas está a ponderar a abertura de falência e... temos que discutir como o vamos fazer. (...) Não, não... Não se preocupe, não há problema com isso. Se a reunião acabar tarde, fico em casa do Alvarez, tá bem, querida? (...) Óptimo."
Do outro lado estava Helena Avillez Saraiva, acabada de acordar. O cenário era o das novelas da TVI: vivenda luxuosa na linha de Cascais, decoração feita por encomenda à Gracinha Morais, que é um amor, etc, etc.
"Tou, Zé Maria? (...) Hoje pode vir ter comigo. (...) Sim, e eu levo aquela lingerie que você adora. (...) Vá, um beijo grande, xau."
No Ministério, Dr. Saraiva assina mais uns despachos e olha para o relógio.
"São horas de almoçar."
O vinho é Pêra Manca, tinto, de 91. Dividido com o Eng.º Telles, para a conta não ficar exagerada.
"Olhe lá, ó Saraiva, a que se deve a comemoração?"
"Comemoração? Quê, por causa do vinho?"
"Claro, então, alguma coisa deve haver para estarmos aqui a beber Pêra Manca..."
"É que hoje, além de ser sexta-feira... Vou finalmente dormir com a Tuta, aquela boazona do ginásio."
"Mas... Ela não é... hmmm... É, não é?"
"O quê, puta? Claro que é, mas é cá um canhão... Olhe, aposto que vale bem os 1500 euros"
"1500 euros!?"
"Sim, acha caro?"
Ao dizer isto, Saraiva fazia sinal ao rapaz para trazer a conta, enquanto articulava com a boca - mas sem som - a frase "era a conta". E pagou tudo.
Às 16h entra no carro e é levado ao Parque das Nações. O Sr. Carlos sabe que aquilo não é um serviço para o Ministério, mas já está habituado a levar o Dr. Saraiva ao ginásio. Sabe também que os 100 euros que recebe de gorjeta todas as sextas-feiras dão muito jeito. O que ele não sabe é o que acontece depois...
Dr. Saraiva entra no balneário, e qual super-homem, despe o fato de fino corte e transforma-se num atleta. O outfit é de atleta. A barriga não.
Passa pelas passadeiras de jogging e dá uma palmada num rabo de mulher. Ela vira-se, pronta a desferir um soco, mas vê o "Fon-Fon" e em vez disso, sorri, dá-lhe um beijo na cara e continua a correr.
Fon Fon vai levantar pesos, ansioso para que aquilo tudo acabe e comece a acção. Passado nem meia hora sai e vai ao parque buscar o seu clássico, um Porsche cinzento, descapotável, de 1962. À saída, Tuta encontra Fon Fon (Afonso Avillez Saraiva para os amigos) em grande estilo, com o seu cu de almofada sentado no Porsche, a olhar para ela por cima dos óculos.
"Que nojo", pensa ela. E entra sorridente no carro.

2008-02-26

Estive aqui a conter-me para não escrever isto...



...mas não consegui evitar. É que o sonho de muitos irmãos foi realizado. Alguém teve a coragem que faltou a muitos de nós e juntou dois amigos para arrear no Rui Santos. É de realçar o bonito gesto de escolher carinhosamente três belos barrotes de madeira para posteriormente os depositar com alguma força na cabeça do senhor. Infelizmente a profecia aqui relatada não foi bem sucedida. Melhores dias virão para a justiça popular.

post scriptum aos agressores: Não se preocupem com uma possível ida ao tribunal. Podem sempre alegar legítima defesa ou acção a bem da comunidade.

Histórias de Encantar - I



Demasiado cedo, dá um beijo à Vanessa e levanta-se ainda com cheiro a couratos e a óleo de motor. Na noite passada esteve a arranjar um Renault 5 até às 4 da manhã, por causa do carter que não passava em 3 sítios. Vai à casa de banho, faz a barba com uma gilette do pingo doce e põe o after-shave da Ferrari que a mãe lhe ofereceu nos anos.
"Hoje é o grande dia"
Toma o pequeno almoço - a habitual mini Sagres e uma sandes de atum - e corre para o autocarro. Vestido com o fato comprado nos saldos da C&A por ocasião do casamento da Fernanda, a gravata cor de laranja, os sapatos de vela - da feira de Sacavém - e os óculos de sol colocados não no nariz, mas na testa.
"Ó Zé Rui!!! Zé Rui!!! - Esquecestes-te do almoço"
Volta atrás e recebe da Vanessa (ainda em camisa de dormir) o tupperware com o seu prato preferido: arroz com ervilhas e chouriço frito. Zé Rui detesta ervilhas, mas nunca lhe disse, para não a magoar.
Já no metro, pensa no BMW importado que poderá comprar com o aumento.
"É só fazer boa figura na entrevista e o lugar de chefe de secção é meu..."
Ajeita os óculos para não caírem das sobrancelhas e pensa em frases inteligentes. Não lhe ocorre nenhuma. Nada... Pensa então com todas as forças e lembra-se que o Manuel Luís Goucha é que fala bem.
"Ainda bem que o Goucha não vai à entrevista, eheh!", pensa Zé enquanto sai na estação de Odivelas. Apanha a carreira das 9h que passa por Bucelas.
À entrada da fábrica, cumprimenta Gomes, o securita, e sobe até ao 2.º andar. Já lá estão a puta da Felisberta, o Tó e o Hugo Esteves, esse cabrão que um dia o gozou por vir de chuteiras para o trabalho. Um por um, entram e saem com a mesma expressão, sem deixar adivinhar como correu. Zé Rui continua a pensar numa frase que impressione o chefe, cada vez mais nervoso e sempre a pensar no BMW azul-petróleo. Ocasionalmente lembrava-se do jogo que arbitrou no domingo passado, o dérbi Sacavenense-Alhandra F.C. e pensava no som do apito que o cunhado lhe dera no Natal. Mas esse pensamento foi cruelmente interrompido.
"Próximo!"
Entra no gabinete, ainda com os óculos de sol na testa, mas com o seu fatinho bem passado e lá vai respondendo às perguntas e provocações do chefe. A gravata dele também é cor de laranja. Bom começo.
"Até está a correr bem. Falta é a frase...", pensa Zé.
O Dr. Ramiro pergunta-lhe o mesmo que tinha perguntado aos outros: "Ó Sr. José, imagine que é chefe de secção e que um subordinado seu chega, invariavelmente, 15 minutos atrasado, tem baixo rendimento e é incapaz de trabalhar 30 minutos sem fumar um cigarro. Se ele mete baixa e só volta um mês depois, o que é que você faz?"
Zé Rui pensa como chefe, respira chefia... Decide que é agora ou nunca: vai soltar a tal frase.
"Eu, Dr. Ramiro, seria implacável. Ah pois é. Dizia-lhe «está despedido!» logo assim de repente, sem um pêlo nem um agrafo."

2008-02-22

El Camacho


Procura-se morto ou vivo.

O indivíduo é suspeito de ter causado milhares de ataques cardíacos no dia 21 de Fevereiro, durante o jogo Nuremberga-Benfica. É de nacionalidade espanhola e é conhecido no mundo do crime por repetir insistentemente, antes e depois de cada crime, a frase "salir a ganar". Os seus principais cúmplices dão pelo nome de Luís Filipe (que é conhecido por ter dois pés esquerdos) e Maxi Pereira (que tem blocos de cimento em lugar de pés).

Por favor ajude-nos, para que o Benfica não continue a "salir a ganir".

Quem o tiver visto, por favor deixe aqui o seu testemunho. A recompensa será avultada.

2008-02-15

Por favor...



...Para eu não ficar eternidades à espera que a pessoa à minha frente na saída do metro avance (naquelas maquinetas diabólicas que volta e meia se fecham e nos fazem sentir como o Martim Moniz), fica aqui uma chamada de atenção:

O SENSOR DE ABERTURA NÃO PRECISA DE SER MASSAJADO PARA RECONHECER O CHIP DO PASSE!!!

É COMO MOSTRAREM UM TEXTO A ALGUÉM, FAZENDO CÍRCULOS COM A FOLHA, NO AR. NINGUÉM CONSEGUE LER...!!! 


Fazem-me esse favor? Desde já, muito obrigado.

Cordialmente,
O Gajo que está na fila, atrás de si.

Jantar no Japonês


Descobri que o dia 13 de Fevereiro é o melhor dia para ir a restaurantes que estão normalmente atulhados em gente. Como era véspera do dia dos namorados, o Japonês estava quase vazio. Provavelmente estava toda a gente em casa a discutir porque já não fazem reservas no tal sítio romântico; porque a sogra vai lá a casa precisamente nesse dia e quer jantar em família; porque vai dar o jogo Benfica-Nuremberga às 20.45h e gajo que é gajo tem que ver o Benfica e só depois é que janta, etc... Aposto que houve muito casalinho chateado por causa do jogo.

Mas voltemos ao que interessa. Como não celebro o dia dos namorados, qualquer dia pode ser esse dia (ah, e vi o Benfica descansadinho). Resolvemos então ir ao sushi, beber uma garrafa de vinho, enfim... Estar a dois num sítio romântico e tal e coiso. Eis então que se aproxima Zé, o empregado de mesa e diz-me: "deixe-me dizer-lhe que a sua sweat é muito gira" - Primeiro pensei: queres ver que este gajo pensa que eu sou gay, apesar de estar a jantar com a minha namorada? Depois lembrei-me de olhar para a camisola e fiquei mais descansado: era a da imagem de Jesus Cristo com a frase "Never trust a Hippie".

Fiquei descansado, mas não tivemos descanso durante o jantar todo... Volta e meia lá vinha o Zé:

Zé: Eu acho que isso era mesmo verdade, sabe... Eles levavam mesmo uma vida de hippies.
Eu: Pois, pá e aquela história de Jesus caminhar sobre a água, foi uma má tripe, de certeza.
Zé: Claro, eles já naquela altura tomavam substâncias alucinogénicas.

(foi aqui que eu percebi que o Zé ia concordar com tudo o que eu dissesse)

Eu: Então, você pensa que os milagres eram o quê? Aquilo era malta que abusava dos... dos...
Zé: Dos drunfos!
Eu: Pois! Dos drunfos.

Passados uns 45 minutos de conversas intermitentes com o Zé sempre a concordar com tudo o que dizíamos mesmo que fosse a coisa mais absurda do mundo, consegui que ele fosse ao mesmo tempo a favor e contra fumar. Mais: disse que não fumava e que lhe fazia impressão o fumo, mas quando eu disse que não era nada contra e que cada um escolhe o que quer fazer, ele acabou por me mostrar o maço de tabaco de enrolar...

O Zé esforçou-se tanto em concordar com tudo, que acabámos por lhe dar a tal gorgeta... Assim que a recebeu "puf!!!" desapareceu. E ainda bem. Aí todos concordámos que foi a melhor opção.

2008-02-12

Não era Arena Lounge?



Já fui algumas vezes ao Casino de Lisboa e tem sido uma experiência agradável.

Aquilo até é giro, tem concertos à pala (fui lá ver Koop) e centenas de chineses a estourar toda a guita que ganharam a vender Shop Suey's de Polco e Banana Flita. É giro, mas nunca mais lá volto. Juro que ouvi agora na Rádio Oxigénio dizerem que qualquer coisa ia acontecer "no Urina Louge".

2008-02-02

Provavelmente já viram isto, mas...



...Não quis arriscar. É que este vídeo é obrigatório, para quem viu a reportagem da Sic e para quem não viu também... Já agora, quem não viu o original, procure no Youtube. É quase tão hilariante como este.

2008-02-01

Horatio Caine - The Lord of the Bitáites


Não conheço outra personagem digna deste cognome. Se há alguém candidato a Grão-Mestre da Ordem do Bitáite, Mandador-de-Bitáites-Mor ou Master of Bitáites é este homem. Horácio de seu nome.
É que para além de mandar cerca de 12 bitáites por minuto - quer a companheiros de trabalho quer a pulhas e meliantes - fá-lo com uma pinta do caraças: olha de ladex, baixa os míticos óculos de sol e... Táu! (acho que o gajo pensa para ele próprio: "...TÓÓÓMA-TE!!!"). E o melhor é que na maior parte dos diálogos, Horácio nunca olha de frente para ninguém. A prever um assassinato em série ou a dizer "vou ali fazer um grande cócó" a pose é sempre magnânima e distante, a olhar para o infinito e mais além, numa de "sou mesmo o maior, caraças". E é.

Já tentei imitá-lo no trabalho. Quando me perguntaram "mas ó Tiago, isto cataloga-se como monografia ou como material não-livro?" eu respondi, de lado, a olhar para longe e com ar misterioso, embora seguro "os documentos escondem sempre alguma coisa".

Desta vez mandaram-me à merda, mas para a próxima trago os óculos de sol.