Ontem fui a uma reunião de pais. A primeira dica de que estava ali deslocado foi um desabafo de uma das mães para a educadora: "ainda bem que consegui vir, que o meu marido não me soube dizer nada do que se passou na reunião anterior".
Eu sei porque é que ele não disse nada. Porque NÃO. HAVIA. NADA. para dizer! Mas aquelas mães tinham de saber mesmo tudo: quais são as atividades, se cantam acompanhados de instrumentos musicais ou não, se há inclusão entre meninos e meninas, se os deixam brincar com isto e com aquilo, etc.
Enfim, a reunião de pais foi monopolizada por 3 ou 4 mães que parecia que tinham inscrito os seus filhos de 3 anos em Harvard, e precisavam mesmo de saber se eles estavam atentos às aulas de inglês, literacia e yoga. O meu não estava de certeza, que não o inscrevi nessas merdas: o Manuel pertence a um pequeno grupo de crianças de elite que podem ir para recreio brincar enquanto os outros têm aulas extra.
Isto está tudo muito mudado... Na minha altura as aulas extra chamavam-se aulas de compensação e só lá iam os burros.
A certa altura falou-se de puzzles, e uma das mães queixou-se de que a filha não mostrava muito interesse e fazia poucos e com poucas peças. Perguntou depois qual o numero de peças indicado para a idade deles, ao que a educadora respondeu "umas 20, até 25...", tranquilizando a rapariga, enquanto outra mãe exclamava do outro lado "Sóóó!? Ai, a minha filha já faz de 64 peças!"
E foi aqui que me perderam.
Desliguei da reunião e fiquei a imaginar a miúda a receber das mãos do Rei da Suécia, o seu fortemente merecido Nobel dos Puzzles: