2008-05-09

Querido Diário



Hoje foi (está a ser) um daqueles dias que de rotineiro não tem nada. Não sei se foi obra do acaso ou se há aqui mão divina do mesmo gajo que faz com que todos os cromos do Mundo se atravessem no meu caminho. Já agora, em jeito de introdução anamnésica (como nos filmes, quando mostram o passado do Rambo, ou assim):

Ia eu um destes dias a sair da carruagem do metro, quando há um gajo aí com uns 20 anos, todo estilo "street-nerd", sentado no banco da estação, que decide levantar-se e atravessar-se à minha frente para entrar no metro quando as portas já estavam a fechar, mas não sem antes dar um mortal encarpado para a frente, cair mal, levantar-se e entrar no metro todo de lado, meio a cair, meio com o pensamento "quase que sou o maior".

Pronto, está mais ou menos contextualizado o tipo de serviços que o meu "anjo da guarda" faz lá em cima. Se os vossos anjos da guarda são tipos honestos que todos os dias cumprem as suas funções - tipo fazer acontecer coisas más, coisas boas, coisas assim-assim - o meu é aquele gajo que chega atrasado e bebe em serviço. Mas diga-se já aqui que curto mesmo o gajo.

Hoje de manhã, deu-me por exemplo a possibilidade de conhecer Miró. Não numa perspectiva cultural, mais no âmbito pessoal e intimista de ver um labrador chamado Miró a correr pelo meio dos gabinetes de uma empresa e às tantas derrubar um ecran de computador dos antigos e levar com ele em cima do lombo. Mais nessa perspectiva.

Depois fui comprar atum. Sim porque gajo que é gajo compra atum ali na Conserveira Nacional. Atum e anchovas com alcaparras. Nisto lembrei-me de ir à minha antiga casa ver se lá havia correio antigo para mim. Lá fui à Rua dos Fanqueiros, n.º 165, rever a Dona Fátima da Óptica que me guarda a correspondência. Dois dedos de conversa e ela entrega-me uma carta sem remetente. Abri. Era da CGD, entregavam-me um cartão de estudante que não pedi, com validade até 2011 (descontos nos museus!) e com um grau académico ao calhas: doutoramento. Muito fixe, considerando que ainda nem acabei o mestrado.
Saio da Óptica e oiço um apito. Olho para o 2.º andar em frente, está um polícia africano no cabeleireiro africano, a apitar cá para baixo (agora podia por "africano" a seguir a todos os substantivos. Era fixe, mas fica para a próxima), tentando ao mesmo tempo aparar a carapinha e por ordem no trânsito. No caso, não permitir o estacionamento em cima da passadeira, a um casal que estava meio atordoado a ouvir apitos e bitáites policiais sem saber de onde.
Saí dali a pensar que a situação não podia melhorar. Erro crasso, porque o meu "anjo da guarda" deve ter começado a beber caipirinhas às 7.00h da matina... Na rua Augusta, enquanto um grupo de Índios a tocar pan-pipe acaba a música em apoteose, uma tia impertigada enfia o sapato nas pedras da calçada em cai em slow-motion mesmo à minha frente. Infelizmente não pude ajudá-la. Estava demasiado atarefado a rir-me dela e dos índios todos que se riam ainda mais do que eu.

FIM.

P.s.: Querido "anjo da guarda", como esta expressão é impessoal e algo apanascada, passarei a tratar-te por Tójó. Tá-se? Depois pago-te uns copos.

7 comentários:

Borboleta disse...

Eu tenho um anjo
Anjo da guarda
Que me protege
De noite e de dia
Eu não o vejo
Eu não o ouço
Mas sinto sempre a sua companhia

Eu tenho um guarda
Que é um anjo
Que me protege
De noite e de dia
Não usa arma
Não usa a força
Usa uma luz com que ilumina a minha vida

Ele não, não usa arma
Ele não, não usa a força
Usa uma luz com que ilumina a minha vida

* António Variações

Borboleta disse...

já ouviste a canção, cantada pelo Variações? tem um certo pico a caipirinhas desde a 7 da manhã :D

luis disse...

Lindo! :D

Anónimo disse...

sabes o que é que faz o tójó? não acho que te coloque cenas maradas à frente dos faróis, o que ele faz é abrir-te os olhos.

ele não te deixa passar sem olhares para o céu.

gosto do tójó.

quando forem beber um copo, avisa

m

Anónimo disse...

hilariante!!! esse dia foi simplesmente genial :D
o meu anjo da guarda nunca me acorda a horas e a consequencia não é nada agradável... é q ter d subir as intermináveis escadas rolantes do chiado quase a correr todos os dias e a dormir em pé, é esgotante. e tendo em conta que o bairro é alto... só mesmo com muita prática!!

rafaela disse...

e a D. Fátima não tinha lá o postal?

=P

tiagugrilu disse...

Não!

Ahahahah!