Alberto Korda, fotógrafo cubano, cristalizou a imagem que havia de se tornar a figura icónica e de auto-afirmação de milhões de jovens. A personagem deificada que surge perante Korda quando o filme é revelado acaba estampada em triliões de t-shirts, bandeiras, pin's e o mais variado merchandising, na fachada do Ministério do Interior de Cuba e na nota de 3 pesos cubanos.
Steven Soderbergh resolveu tirar partido do mito criado em torno de Ernesto "Che" Guevara, passando a filme o que ficou inscrito nos diários de guerra do argentino. Digo "tirar partido" com plena certeza e sem qualquer parcialidade de cariz político ou filosófico, apenas porque Soderbergh não fez todo o trabalho de casa.
Vi recentemente a sequela de "Che, o Argentino", com Benicio del Toro no papel principal e com uma interpretação absolutamente fabulosa de Demián Bichir no papel de Fidel Castro. Na generalidade bem filmado, este filme a dois tempos assenta na estrutura clássica "Ascenção" versus "Declínio", mas os argumentistas Peter Buchman e Benjamin van der Veen conseguiram arruinar aquilo que poderia ter sido um bom filme.
Segundo o que ouvi, a ideia fundamental de Soderbergh era especificamente a de filmar a morte de "Che", contando para isso a malograda história das acções de guerrilha na Bolívia. Posteriormente, chegou à conclusão de que era necessário contar o que se passara anteriormente e lá se arranjou mais um argumento, desta feita baseado no diário de Cuba.
Diga-se em abono da verdade que a cena da morte de Che está bem conseguida e que o estilo de Soderbergh até se nota em duas ou três passagens do filme, mas foi definitivamente uma escolha errada, a de ir pelo caminho mais fácil, o da exaltação do mito.
Para quem viu ou vai ver, aconselho o documentário com testemunhos do biógrafo John Lee Anderson, e de "Benigno", ex-companheiro de "Che" quer em Cuba quer na Bolívia, actualmente exilado em Paris, acusado de traição à nação cubana.
Deste documentário é possivel retirar as inúmeras incongruências em relação à adaptação feita dos diários e é sobretudo gritante a diferença abissal entre o verdadeiro, "frio e por vezes aterrorizador" Ernesto Guevara, e o mito, o "Che" que Soderbergh filmou. Podem ver o documentário Aqui
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13 comentários:
Por momentos, julguei que estava no blogue errado!
és um spoiler em potência! eu ainda não vi nenhum dos filmes. ARGH!!!
queres um spoiler? o gajo morre no fim.
E o nosso Joaquim de Almeida manda-o à merda nalguma parte do filme?
Não deixa de ser irónico que uma das faces mais conhecidas da luta comunista seja também uma das que mais sucesso comercial tem. Tendo isto em conta o meu medo é que um dia eu venha a ser visto como um ícone do vegetarianismo.
Deves tar Ché Ché!
Mas então fica a pergunta...Tu és "fixe"? Tens a camisola do Che?
Se bem me recordo utilizas-te os mesmos argumentos para defender o Slummdog: a exaltação da pobreza só que muito pior filmada. Em que é que ficamos, caralhete?!
Alexandra,
Também eu... Estava num dia chato.
Borboleta,
Não há muito para spoilar, deixa estar.
A,
És o máiore!!!
CBlues,
Sim, e ele responde sensualmente "vai tu..." e apalpa-lhe a tomtália portuguesa.
Anónimo,
E eu, como ícone gay.
Pwfh,
Estava um bocado CHEio de estar a trabalhar, mas já estou melhorzinho.
M.e.M.
God, no...!
Bloga-mos,
Ficamo-nos pela minha opinião. Vale o que vale...
Não me lixes é o pretérito perfeito...
;)
a tua terra voltou a aparecer nas notícias. coisas mirabolantes, mais uma vez!
O que é que inventaram desta vez? Um presunto de porco preto que é curado ao som dos Delfins e que se chama "I HAVE A DREAM"?
não.. inventaram um sistema de trocar velhotas que morrem ao som da marcha fúnebre.
Ah, isso é normal.
Lá é vulgar seres operado ao joelho direito quando o esquerdo é que está avariado. Chama-se "não virar a radiografia do lado certo".
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