Viram o vídeo acima? Se não, vão lá ver que eu espero. São 6 minutos e eu tenho tempo. Vou ali beber um café. E agora? Já está? Ok, vamos lá então:
No próximo domingo dia 8 de janeiro, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta irá manifestar-se no Terreiro do Paço com vista à "promoção da bicicleta e dos seus utilizadores". O protesto é "contra algumas das medidas presentes no novo Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária (PENSE2020)" onde se antevê um aumento da fiscalização sobre bicicletas e o uso obrigatório de capacete.
Sou completamente a favor do uso do capacete. Tal como do preservativo. São mais seguros no decorrer da actividade? São, sim senhor. Só não quero um polícia a mandar-me parar porque estou sem um deles. "Sim, senhor guarda, eu sei que é mais seguro... mas não sabe tão bem."
Além disso, em 30 anos de pedaladas já caí muitas vezes: já escangalhei os dentes da frente contra uma oliveira e já fui a lavrar terra com os queixos quase até Santarém. Podia estar aqui o dia todo a contar as minhas quedas. Curiosamente, nunca em nenhuma delas investi com a cornadura no chão. E mesmo que o tivesse feito, duvido muito que um pedacinho de esferovite igual ao das caixas da Docapesca, pendurado com umas fitas em cima do meu cocuruto, pudesse ter contribuído para minimizar drasticamente os efeitos da queda. Um gajo tem que cair à playmobil para aquilo ter algum uso. E eu nem fui à escola nem nada, mas acho muito complicado um indivíduo cair exatamente assim:
Pode ser exagero meu, que no fundo quero é andar penteadinho na bicicleta (já bem me basta o cabelo à lavrador com que saio da mota todos os dias), mas a verdade é que os capacetes de bicicleta verdadeiramente seguros são os de downhill, com pala e queixeira, como este:
Claro que ninguém quer aparecer no trabalho disfarçado de Motorrato de Marte. Mas ao menos tem estilo. A maior parte dos capacetes de ciclismo atribuem instantaneamente à pessoa um fabuloso ar de tótó.
Se a isso juntarmos aqueles óculos de ciclista e um colete refletor amarelo, fica completo o cenário. Depois é preciso um polícia do estilo a fazer "paragens STOP" e a espetar multas em quem aparente ser uma pessoa normal. "O senhor ciclista não apresenta níveis de ridículo suficientes para transitar nesta via, vou ter que o autuar e apreender-lhe a Cansiltra."
Em resumo, acho muito bem que se use capacete, eu próprio uso quando faço percursos mais acidentados ou se fizer troços em estrada potencialmente perigosos, mas deslarguem-me da mão, pá, não sejam mais papistas do que o Papa. Ponham os olhos nos países nórdicos e legislem com os olhos postos em alternativas aos automóveis. No vídeo acima viram alguém de capacete? Não. E no entanto passaram de 400 crianças a perder a vida nas estradas, para 14.
Se a obrigatoriedade for para a frente, vou fazer jus ao estudo da OMS e usar a bicicleta menos 40% das vezes. E se algum dia algum governo se lembrar de tornar os calções de lycra obrigatórios, aí esqueçam.