Com os alguidares de água que S. Pedro tem despejado cá para baixo assim à maluca, tem aumentado a humidade relativa, o que propiciou a multiplicação exponencial de mosquitos na rua e nas nossas casas. Eu chamo mosquitos aos “moscos” ou “moscas-da-fruta”, não sei como as pessoas civilizadas os chamam.
Vamos ver como é o curto ciclo de vida destes “mosquitos”, para tentar perceber o que os move (para além de fruta podre e restos de comida) e o que fazem no dia-a-dia? Vamos a isso:
1º dia: Nascimento. Assim que eclode do ovo/larva, o mosquitinho abre os olhos e começa a explorar o mundo à sua volta (a minha cozinha, portanto). Olha para o lado e vê os seus irmãos, primos, primas e pessoal lá do bairro. Ainda antes de ir conhecer o balcão e as suas migalhas, vira-se para a mosquitinha do lado e diz-lhe “Mostro-te a minha antena se me mostrares a tua...” – Ela: “OK. Mas peraí, deixa-me confirmar primeiro, que nem reparei que tinha antena... Eh lá, eu não tenho!!! Buáááááá!!!!”. Isto resolve-se, sendo que o mosquito a convence de que é médico e lhe faz um curativo. É aqui que o mosquito repara que a mosquita tem asas... E pensa “Deixa cá ver se também tenho umas daquelas... Xinamén! E tenho mesmo! – vou-me atirar do balcão” – E lá vai “voando” os seus primeiros 10 cm. Ela faz o mesmo.
2º dia: Adolescência. A libido tomou conta deles e delas. Nada a fazer... Começam a pinar como se não houvesse amanhã (e muitos deles têm razão). PIMBA ... 2 ou 3 segundos depois... PIMBA... mais 3 segundos ... PIMBA.
Os mais amalucados vão voar às voltas no fumo do incenso até caírem de costas com overdose, os outros petiscam uns bolores fresquinhos numa banana meio podre. E ... PIMBA. E comem. E depois PIMBA. Depois vão para a night curtir. E PIMBA. A festa é no local de sempre: a lâmpada da minha cozinha. É até às tantas sempre a bombar, às voltas até ficarem malucos ou até caírem devido a sobreaquecimento. Alguns nunca mais se levantam. Outros voltam para casa, meio desorientados, quando apago a luz.
3º dia: Crise de Meia Idade. Acordam com o triplo do tamanho, devido à abundância de petiscos e à agradável humidade do ar. O mosquito olha para a mosquita com ar de James Bond... Ela devolve-lhe uma piscadela de olho à Marilyn Monroe... E PIMBA. Passam 4 ou 5 segundos, E nova tentativa...! E ... NADA... Estragou-se a antena... Para afogar as mágoas desatam os dois a comer demais, quadriplicando o tamanho. Ele, gordo e impotente, (já mataram algum ultimamente? – Estão mesmo obesos, os cabrões...) pensa em comprar um carrinha Volvo, ela afoga as mágoas no papel de embrulho dos “Mon Cherri” e apanha uma bubadeira com o álcool do recheio, que nem sabe como se voa... – É por isso que nos entram para os olhos.
Os que sobrevivem, passam pelo candeeiro da cozinha para se distrair. Andam ali às voltas um bocado e chateiam-se. Voltam para casa. Há os que ficam até a luz apagar, mas ou são mais jovens ou vão quinar nessa noite.
4º dia: Velhice. Os que sobreviveram até agora vão passar pela Selecção Natural (EU). ZZZZZZ PAFFF!!! 2 quinaram, 3 safaram-se... ZZZZZZ PAFFF!!! 3 finaram-se, 4 escaparam. Os sortudos que escaparam têm uma agradável experiência: “ALEGRIA!!!” (ler alto, com voz de Floribela), nascem centenas de mosquitinhos, chatos como merda num sapato novo em folha. Daí a irem para o meu candeeiro curtir é um dia. Os mosquito-cotas, com a inconsciência que lhes é característica, resolvem mudar de vida. Janela fora, vão para o meio da estrada voar à parva e acabam ou na “vista” de um estafeta da Telepizza ou no radiador de um carro genocida (no caso, insecticida).
Esqueci-me de falar nos mosquitos celibatários, que também os há. Esses duram menos tempo, já que muitas vezes caem em depressão, sempre a adorar a Luz. “Eu vejo a Luz, eu vejo a Luz!!, e andam ali às cabeçadas até caírem para o lado: PUMBA, E PUMBA, E PUMBA
...E PUMBA
...E PUMBA.
Mas morrem felizes, apesar de tudo.
A TODOS OS CELIBATÁRIOS DESTE PAÍS: Se quiserem passar por minha casa, desde que de forma ordeira e civilizada, deixo-vos darem umas cabeçadas na minha lâmpada da cozinha. Diz que aquilo tira o stress e a tensão.
...E PUMBA!
...E PUMBA.!
(mais umas cabeçadas)
...E PUMBA,
...E PUMBA. Até cair para o lado. É a loucura.