
Para quem acha que o que escrevo vem da minha imaginação, a fotografia acima serve para provar que o seguinte episódio (tal como todos que aqui transcrevo) foi real:
Estava eu a dar uma volta de bicicleta com um amigo meu que se chama Tiago e que não sou eu próprio (pronto, já começam a não acreditar... mas é verdade. Eu sou o gajo da frente e o Tiago é o de trás, de óculos Ray Ban) quando ao quilómetro 18, ali para os lados do Poço do Bispo, a minha câmara de ar à prova de furos fura e eu fico apeado.
Oh meu Deus... que fazer? Estamos a 5km de minha casa e são nove da noite. Fomos comprar minis, minuins, e uma litrosa. Nisto encontramos o Santos e Costa, um angolano aí com uns 50 anos, já bem bebido, que me pergunta o que aconteceu, e ficámos os três à conversa:
Eu: Epá, furou-se...
Santos e Costa: Xiii... E agora?
Tiago: Olha, estamos a beber para esquecer.
Eu: Pois... E a comer minuins.
Santos e Costa: Oh pá, tenho uma bomba de ar que enchia isso num instante.
Eu: A sério? tens aí?
Santos e Costa: Não, tenho ali num barracão, mas na 3.ª feira levo-a para a vender na feira da ladra, aparece lá.
Eu: Epá, se calhar não me apetece esperar até 3.ª feira para encher o pneu... Deixa estar.
Tiago: Mas tu és de onde?
Santos e Costa: Sou metade angolano, metade português. E sou o único gajo que combateu nos dois lados da guerra colonial.
Eu: Eh lá...! Como é que foi isso?
Santos e Costa: Então, primeiro combati por Angola mas depois vim para Portugal e combati por Portugal.
Tiago: Contra Angola?
Santos e Costa: Atão pois!
Eu: Fogo, meu, grande história... Mas conta lá, não tens saudades da tua terra natal?
Santos e Costa: Sonho com isso todos os meses.
Tiago: Todos os meses!?
Eu: Então e não pensas voltar lá um dia?
Santos e Costa: Penso. Qualquer dia apanho o barco para Évora e depois o helicóptero bombardeiro para Angola e vou lá.
.